quinta-feira, 9 de maio de 2013

Onda verde x Primavera Carioca: 10 motivos por que Freixo em 2012 não foi tão bem quanto Gabeira em 2008



Eu estava na faculdade em 2008. A eleição daquele ano tinha componentes interessantíssimos:

Fatores da eleição de 2008

1- O prefeito da época, César Maia, já estava no segundo mandato e não podia se reeleger. Além disso, sua aprovação era baixa e a chance dele transferir votos para sua indicada, Solange Amaral, era baixíssima.

2- As esquerdas mais uma vez vieram desunidas. Destaque para candidatura de Molon-PT e Jandhira-PC do B.

3- O nome que começou disparado nas pesquisas foi o de Crivella-PRB, que devido a sua ligação com a igreja Universal, tinha um enorme índice de rejeição. No entanto, sua popularidade no em parte do meio evangélico deu a ele cerca de 21% das intenções de voto.

4- Eduardo Paes havia acabado de deixar o PSDB para ir pro PMDB de Sérgio Cabral, o governador da época. Paes, que concorrera ao governo do Estado em 2006 pelo PSDB, foi um crítico ferrenho de Cabral anteriormente.

O Rio de Janeiro acabara de sofrer com brigas entre o governo federal, estadual e municipal. Paes tinha a seu favor essa possibilidade de união de recursos por ser de um partido do governo do estado e da base do governo federal.

5- Contra tudo e contra todos, Fernando Gabeira-PV se apresentou como um candidato que distoava de todos os outros. Sua imagem transparecia a novidade que a juventude carioca abraçou.

6- Depois do início da campanha, Crivella começou a cair e Eduardo Paes a subir nas pesquisas. Nas últimas semanas de campanha, o medo de levar Crivella ao segundo turno fez com que o eleitorado escolarizado desse seu voto útil a Gabeira.

7- Logo, o crescimento de Gabeira foi causado pela integridade de seu histórico, pelo voto dos jovens, pelo voto tucano das regiões ricas e pela rejeição a Crivella.

8- Confesso que jamais vi algo parecido com a Onda Verde. Foi um crescimente avassalador e rápido. Ao chegar no segundo turno, Gabeira ainda declarou que sua campanha venceu o poder político, midiático e religioso - referindo a Paes e Crivella.

9- No segundo turno, Gabeira recebeu o apoio de César Maia e compôs uma campanha ameaçadora, chegando a liderar as pesquisas dias antes da eleição.

10- Sérgio Cabral, sabendo que Paes perderia, resolveu decretar feriado facultativo na quinta-feira antes da eleição. O feriado prolongado fez com que muitos eleitores jovens e ricos (votos de Gabeira) viajassem no dia da eleição.

Além disso, até deus deixou que o dia da eleição tivesse um solzão que acabou por lotar as praias da Zona Sul. Como resultado dessa artimanha, Paes teve uma vitória apertadíssima.

Fatores da eleição de 2012

1- O governo Sérgio Cabral e Eduardo Paes estavam muito bem avaliados devido à implantação das UPPs e UPAs. A escolha do Rio para sediar as Olimpíadas também era um fator positivo. No entanto, as denúncias de corrupção começavam a arranhar a imagem de Paes no eleitorado escolarizado. Mesmo assim, Paes liderou toda a campanha acima dos 50%.

2- Como toda a campanha de reeleição de um prefeito bem avaliado, poucos foram os candidatos que se candidataram. Foram eles Otavio Leite-PSDB, Rodrigo Maia-DEM, Aspásia-PV e Marcelo Freixo-PSol.

3- A chapa de Rodrigo Maia com Clarissa Garotinho-PR como vice foi um desastre. Os dois nomes somavam rejeição no Rio, pois o eleitor dos Maias não nj vota nos Garotinhos, e vice-versa. Se Clarissa tivesse sido candidata, com certeza teria mais votos nas regiões mais pobres do que Rodrigo Maia.

4- Aspasia tentou repetir - sem sucesso - a onda verde de Gabeira em 2008. Otavio Leite tentou - também sem sucesso - organizar uma campanha tucana no Rio.

5- O destaque da eleição foi Marcelo Freixo, o morador de Niterói podia ser eleito facilmente em sua terra, mas optou por alçar um voo mais arriscado no Rio. Freixo caiu na boca da juventude do Facebook graças a sua participação no filme Tropa de Elite 2, que acabou sendo sua maior propaganda.

6- Desde o início da eleição a vitória de Paes no primeiro turno estava decretada. Com o apoio das máquinas municipal, federal e estadual, Paes tinha mais recursos e tempo de tv do que todos os outros juntos. Sua coligação somava mais de 15 partidos.

7- O fator Crivella não se repetiu. Sem um candidato evangélico na disputa, muitos evangélicos decidiram apoiar Eduardo Paes. Em troca, Paes destinou 2,5 milhões de reais para a Marcha para Jesus organizada por Silas Malafaia. Malafaia ainda devolveu 500 mil de troco a Paes, alegando que 2 milhões era suficiente.

8- A campanha de Freixo só tinha um minuto e estava focada na internet. Aos poucos, as redes sociais se tornaram território freixista.

Todos passaram a fechar com Freixo. O Freixo também contou com o apoio de artistas. No entanto, nas regiões Norte e Oeste da cidade, onde as milícias são presentes, a campanha de Freixo não se estendeu. Parte da imprensa escrita do Rio também apoiou Freixo até o final.

9- Freixo ainda declarou que se fosse para o segundo turno não aceitaria o apoio de César Maia e Garotinho. Nesse momento ele praticamente perdeu qualquer chance de vencer. Um candidato do PSol a vereador ainda foi acusado de ligação com o crime e isso causou um certo dano. Freixo ainda fez grandes concentrações em comícios na Lapa no final da Campanha, mas já era tarde.

10- Depois de debates confusos com a participação dos 5 candidatos, surgiu a denuncia que Paes teria comprado o apoio de um partido por 1 milhão de reais; porém, isso não fez muita diferença no resultado da eleição. Paes ganhou disparado e Freixo não chegou nem perto de ir a segundo turno.

Fatores que fizeram com que Freixo não fosse ao segundo turno
image

1- Total desproporcionalidade entre os recursos e tempo de tv de Freixo e Paes. Freixo não tinha como competir com o mar de dinheiro das empreiteiras.

2- Impossibilidade da campanha de Freixo adentrar na Zona Oeste, devido às ameaças de morte que ele recorrentemente sofria por parte das milícias da região.

3- Confinamento da Campanha de Freixo na internet. Não havia como ele alcançar o eleitorado comum que não integrava redes sociais.

4- A incapacidade total de Rodrigo Maia, Otavio Leite e Aspáia de somarem ao menos 10 pontos juntos. Se eles tivessem somado ao menos 20 pontos, haveria chance para Freixo.

5- Faltou um candidato com perfil popular para roubar votos de Paes na Zona Oeste. Tanto Otavio, quanto Rodrigo e Aspásia tinham um perfil de eleitorado escolarizado. Logo, no único candidato com perfil popular era Paes.

O eleitado de Freixo era escolarizado, jovem e localizado na Zona Sul do Rio. Dessa forma, Freixo ficou com a fatia menor do bolo numa cidade com eleitorado majoritariamente pobre.

A mais de 50 anos as eleições na cidade sempre mostram disparidades entre os candidatos favoritos na Zona Norte e na Zona Sul. No entanto, em 2012 Paes venceu em todos os bairros, menos Laranjeiras, onde Freixo ganhou com menos de 50%.

6- Freixo teve uma votação maior no primeiro turno que a de Gabeira. Freixo conseguiu um eleitorado que já é cativo do PT, além do eleitorado jovem.

7- Ao esnobar o apoio de César Maia e Garotinho, Freixo perderia votos preciosos num segundo turno contra o poderoso Eduardo Paes. É bom levar em consideração que até o Gabeira aceitou o apoio do César Maia.

8- Freixo não fez coligações com partidos como PSTU, PCB, PC do B, PT, PSB e etc. Sozinho, o PSol teve apenas um minuto de TV e com baixo poder de atratividade em muitas regiões.

9- Faltou organização à campanha freixista. O jingle era vergonhoso e os santinhos eram ingênuos. O material de campanha era muito escasso e dificilmente chegava em muitas regiões da cidade. Até deus deu uma forcinha pro Freixo e mandou chuva forte no dia do comício final de Freixo na Lapa.

10- Faltou marketing para abordar o cidadão comum. As propostas de Marcelo Freixo pareciam muito lúdicas para a população de baixa escolaridade. A linguagem excessivamente esquerdista e ética não ressoa nos ouvidos de um povo acostumado a votar em políticos corruptos.
image

Nenhum comentário:

Postar um comentário